Transporte de pacientes



Nos casos dos acidentes que ocorreram durante a transferência de pacientes (60,0%), os maiores problemas levantados pelos trabalhadores foram os pacientes obesos e, muitas vezes, totalmente dependentes, e a quantidade insuficiente de trabalhadores para a realização deste procedimento.
O número de trabalhadores que participavam das atividades no momento do acidente variavam entre duas e três pessoas, incluindo o próprio acidentado, confirmando assim uma das principais queixas dos trabalhadores que é o número insuficiente de pessoal(15). Salienta-se que essas transferências foram realizadas sem o auxílio de equipamentos especiais.
Dos cinco trabalhadores de enfermagem entrevistados, apenas dois (40,0%) referiram ter recebido treinamento formal para a realização dos procedimentos relacionados à movimentação, transferência e transporte de paciente.


DISCUSSÃO
Pelo fato de ser um estudo retrospectivo, problemas foram encontrados na sua realização. Primeiramente, 14 trabalhadores não puderam ser entrevistados por não pertencerem mais ao quadro funcional do hospital ou estarem em licença-médica. Como segundo aspecto que merece ser destacado, a CAT mostrou-se um instrumento apenas referencial e com o agravante de seu preenchimento estar incompleto e de forma não padronizada. Um outro aspecto que deve ser considerado foi a questão da subnotificação ou sub-registro do acidente do trabalho. Nesta pesquisa, em oito anos de levantamento das comunicações de acidentes do trabalho  CAT  foram encontrados 37 acidentes típicos comprometendo a coluna vertebral. A subnotificação foi detectada ao se comparar os resultados do presente estudo com um outro realizado no mesmo hospital(13), que constataram 21 acidentes de coluna (notificados ou não) em apenas seis meses de observação. A subnotificação evidenciada pode ser atribuída ao sub-registro dos acidentes leves. Nos casos de afecções osteomusculares elas podem surgir no momento do acidente ou aparecer lentamente com o passar do tempo e a falta de registro dificulta o reconhecimento de sua relação com o trabalho, podendo ser atribuído à idade e a fatores individuais ou até mesmo hereditários(16).
Em relação ao local de ocorrência, os dados encontrados vieram confirmar outros estudos anteriores(13) em que a maioria dos acidentes aconteceu dentro do hospital e na própria unidade em que o trabalhador de enfermagem estava atuando. Autores(17) que realizaram uma pesquisa na Suécia, notaram que 59% dos acidentes ocorreram no quarto do paciente. Pesquisadores do Canadá verificaram que o maior número de ocorrência de lesões nas costas aconteceu com o pessoal de enfermagem na Ortopedia(7).
O presente trabalho também procurou mostrar o que os trabalhadores estavam fazendo quando ocorreu o acidente. Dessa forma, verificou-se que geralmente estavam movimentando equipamentos ou materiais. Este fato aponta para a necessidade de realização de pesquisas que focalizem a importância de tarefas não relacionadas com o transporte de pacientes na ocorrência de lesões vertebrais entre a equipe de enfermagem. No entanto, observou-se também que as atividades que envolvem a manipulação de pacientes continua sendo um fator de risco preocupante entre as causas de lesões dorsais.
Um estudo realizado em um hospital australiano demonstrou que 67,7% das lesões ocasionadas por manuseio de pesos estavam associadas com as atividades diretas com pacientes e, 32,4% com os procedimentos que não envolviam a manipulação de pacientes(10). Pesquisadores e organizações têm procurado discutir as técnicas de movimentação e transporte de pacientes dentro de uma estrutura ergonômica e utilizando equipamentos auxiliares(18-19). No entanto, continuam sendo utilizados sem treinamento e em condições inadequadas.
Autores brasileiros(15) verificaram que esses procedimentos são executados sob condições desfavoráveis, com um número insuficiente de pessoas e com equipamentos inadequados e sem manutenção. A falta de equipamentos e materiais para auxiliarem agrava mais ainda o problema.
Um estudo(13) revelou que os acidentes ocorreram quando os trabalhadores estavam movimentando ou transportando pacientes e equipamentos e por quedas. A importância das quedas ficou evidenciada quando os trabalhadores citaram o piso escorregadio como um dos principais agentes causadores do acidente. Os resultados apontam também outras causas relacionadas com os pacientes, equipamentos, ambiente e a própria organização do trabalho. Dentro deste contexto, os resultados apontam para o estabelecimento de estratégias de prevenção que caminham em direção a uma abordagem ergonômica tais como: treinamento sobre movimentação e transporte de pacientes, melhoria do posto de trabalho, utilização de auxílios mecânicos, revisão de aspectos organizacionais do trabalho, entre outros.
A questão das conseqüências dos acidentes que afetaram a coluna vertebral merece ser destacada. O presente estudo demonstrou que a maior parte dos trabalhadores (52,2%) ficou afastada do serviço e que o número médio de afastamento por trabalhador acidentado foi de 17,8 dias.


CONCLUSÃO
Comparando este trabalho com pesquisa realizada no mesmo hospital(13), os resultados demonstram que os acidentes do trabalho estão subnotificados por motivos que devem ser ainda investigados. As lesões ocupacionais que afetam diretamente a coluna vertebral ocorreram com maior freqüência com os atendentes de enfermagem, no próprio quarto do paciente. Essas lesões dorsais ocorreram principalmente durante a manipulação de equipamentos e pacientes e tiveram como agente causador pisos escorregadios, que acarretaram quedas, e pacientes obesos e dependentes.
Verificou-se também outros fatores ergonômicos relacionados com problemas ambientais e organizacionais relacionados com as lesões dorsais, tais como equipamentos inadequados, falta de equipamentos especiais para movimentar pacientes, pessoal insuficiente para realizar transferências, falta de treinamento, entre outros. É importante destacar também os impactos econômicos e psicossociais ocasionados principalmente pelo absenteísmo e as seqüelas das lesões.
Dessa forma, torna-se imperiosa a implementação de medidas de prevenção que utilizem estratégias ergonômicas envolvendo pacientes, trabalhadores de enfermagem, equipamentos e ambiente de trabalho.


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